Transformando uma fábrica de cimento abandonada em um dos estúdios mais legais do mundo
Não importa se você gosta de arquitetura ou não, às vezes você se depara com histórias que lhe deixam boquiaberto. A história de Ricardo Bofill e sua fábrica de cimento é definitivamente uma dessas histórias. Com mais de 30 silos, edifícios enormes e tetos altos, o espaço é extremamente rústico e, obviamente, apresentou ao arquiteto espanhol um ou dois desafios de design. Após anos de trabalho, esta propriedade única é agora uma instalação multiuso com um escritório, residência, espaço para exposições e muito mais — tudo oferecendo paisagens e vistas espetaculares da bela Barcelona.
Agora, histórias como essas tendem a envolver algumas pessoas muito especiais e geralmente são um bom lugar para começar. Ricardo Bofill, o arquiteto desta história em particular, nasceu em Barcelona e estudou na Escola de Arquitetura de Genebra, Suíça. Em 1963 fundou um grupo formado por arquitetos, engenheiros, sociólogos e filósofos, criando as bases para o “Taller de Arquitectura” (Oficina de Arquitetura). Com sede em Barcelona, o grupo internacional assume projetos de planejamento urbano, transporte, lazer, habitação e escritórios em todo o mundo – com projetos anteriores incluindo a vila dos Jogos Olímpicos de Qingdao em Pequim, o Aeroporto de Barcelona e sedes de gigantes como Cartier, Christian Dior e Axa Insurance.
Ricardo descreve-se como um nómada, ou como ele próprio diz “um viajante sem porto, obrigado a estabelecer pontos de referência de acordo com a minha jornada”. Com pai catalão e mãe veneziana, ele sempre se sentiu na encruzilhada de duas culturas que se chocaram e se fundiram ao longo da história. Nos seus primeiros anos, atravessou o estreito de Gibraltar, descobrindo as formas fantásticas das dunas do deserto – constantemente transformadas pelos ventos fortes que lhe surgiam como elementos essenciais – mas também as pessoas que as habitavam.
“As areias rosadas do deserto de Teneré, recortadas contra o céu azul-anil, os espaços infinitos de rochas e pedras, foram minha iniciação à beleza absoluta. No deserto conheci os nômades, os homens azuis do Saara, pessoas que pertencem a uma civilização antiga. Descobri que eles entendiam o conceito abstrato de espaço melhor do que ninguém e nos tornamos melhores amigos. Ser arquiteto significa entender o espaço, entender o espaço organizado pelo homem, decifrar os movimentos e comportamentos espontâneos das pessoas e detectar as necessidades de mudança que elas podem expressar inconscientemente. É essencial rastrear essas questões se quisermos contribuir com nosso trabalho pessoal para a história da arquitetura.” – Ricardo, conforme relatado ao Twisted Sifter em 2011.
Avançando para 1973, Ricardo Bofill acaba de descobrir uma fábrica de cimento, parte de um complexo industrial da virada do século, composto por mais de 30 silos, galerias subterrâneas e enormes salas de máquinas. A fábrica, abandonada e parcialmente em ruínas, era um compêndio de elementos surrealistas – escadas que subiam para lugar nenhum, poderosas estruturas de concreto armado que não sustentavam nada, pedaços de ferro pendurados no ar; em suma, enormes espaços vazios, mas cheios de magia. Ele decide transformá-lo em sua sede.
O processo de transformação começa com a demolição de parte da estrutura antiga, deixando à mostra formas antes ocultas, como se o concreto tivesse sido esculpido. Depois que os espaços foram definidos, limpos de cimento e realçados com vegetação ao redor, Ricardo começa a adaptar o local ao novo programa. Oito silos permaneceram de pé, transformando-se lentamente em escritórios, um laboratório de modelagem, arquivos, uma biblioteca, uma sala de projeção e um enorme espaço conhecido como “A Catedral”, palco de exposições subsequentes, palestras, concertos e toda uma gama de atividades culturais ligadas à vida profissional do arquiteto. O complexo fica no meio de jardins de eucaliptos, palmeiras, oliveiras e ciprestes. Também conta com a casa e os quartos de hóspedes de Ricardo Bofill.
“Tenho a impressão de viver num recinto, num universo fechado que me protege do exterior e da vida quotidiana”, disse Bofill no seu site. “A Fábrica de Cimento é um local de trabalho por excelência. A vida aqui continua em uma sequência contínua, com muito pouca diferença entre trabalho e lazer.”
Você pode ver mais imagens das estruturas cobertas pelo jardim e aprender mais no site oficial de Bofill – e também não deixe de conferir este pequeno documentário Nowness sobre o espaço.